quarta-feira, dezembro 30, 2015

Europa em 60 dias - Roma, Itália - Percalços e resoluções

Piazza Navona
 Minha viagem para Roma desde o comecinho se mostrou meio torta. Tinha a intenção de passar um dia com meus amigos Fabrício e Gabi em solo italiano, mas depois que comprei a passagem, percebi que um bug (?) no site da Ryanair transferiu minha viagem para um dia após a data desejada, o que fez com que nós não nos encontrássemos por questão de poucos minutos. Mas, va bene, "somos tao jovens e temos todo o tempo do mundo". Ano que vem tá aí já, às portas.  
Café da manhã depois de uma noite terrível

Frustração primeira passada, vamos lá. Deixei o aeroporto de Lisboa rumo à Cidade Eterna, sonhando com todos aqueles filmes que minha mãe assistia e que fazia a gente ver junto com ela. Destes, o que melhor me recordo é Candelabro Italiano - uma história bonita do tipo que já não se faz mais hoje em dia, e a música de Pepino de Capri que insistia em tocar em minha cabeça: "Non credevo possibile, Se potessero dire queste parole: Al di lá del bene più prezioso, ci sei tu. Al di lá del sogno più ambizioso, ci sei tu. Al di lá delle cose più belle!". Mas era possível, era preciosa, era bela! era Roma se aproximando de mim entre turbulências e chacoalhos - fim de ano no hemisfério norte é brabo! -  o piloto pedindo desculpa pelo atraso, e o avião voando no céu por uma
hora e tantos extras por causa do mal tempo, e o piloto mudando a rota do avião, e o povo rezando com medo de morrer, e o avião pousando em outro aeroporto, e o povo aplaudindo o piloto de novo. E enfim nós passando pelo portão de desembarque às três horas da manhã e nenhum meio de transporte disponível a não ser táxi. Abri minha carteira, meus olhinhos apertados, coração apertado, meus eurinhos lá dentro se escondendo pra não sair. Mas não teve jeito, era dar uma de Angélica e pagar 40 contos pra ir de táxi ou ficar no aeroporto até o sol raiar, cansado, com sono, com fome, com sede, com vontade de ir no banheiro - era melhor deixar de ser muquirana e ir pro hostel.  (Aviso aos navegantes: quando você desembarca no aeroporto, uma galera de taxistas não oficiais se aproxima de você. É sempre mais seguro não pegá-los. Procure a fila de táxis oficiais).
Fórum Romano
Lá vou eu todo prosa aproveitando o motorista falastrão para pôr meu italiano em dia, falando de pizza,
Fontana di Trevi
lasanha, moto vespa, Ferrari... enquanto aquelas ruas todas iluminadas pro Natal iam ficando para trás e nós chegávamos ao meu destino, a minha via crucifixo, a minha caldeirinha! Ficaram curiosos com tanto drama? Vocês não sabem da missa a metade! Foi o seguinte: reservei o hostel pelo booking.com, como fiz com todos os outros, mas chegando lá, para minha enormensa (isso mesmo!) surpresa, o indiano que me atendeu depois de ficarmos batendo na porta de vidro até os dedos caírem congelados, depois do taxista ligar trocentas vezes pro número que constava na minha reserva, me disse que ali naquela rua bonita e iluminada do centro de Roma, a qual consta como endereço do hostel Carlitos na página do booking.com - inclusive com fotos da dita rua e tudo mais -
Basílica de Santa Maria Maggiore e Piazza Dell'Esquilino
a gente só fazia o check-in, que eu teria de andar uns 4 minutos para o meu destino, pois ali era o Hotel Des Artistes. Em outras palavras: Comprei gato por lebre! Agora imaginem vocês que eu, o cara que se perde com GPS na mão, fui lançado aos leões da madrugada gelada de Roma, com um mapa do local aonde eu devia ir e com a recomendação: você vai passar pela embaixada russa, eles têm armas, etc., mas você não tem nada que ver com eles. Apenas siga seu caminho. Eu com fome, cansado, com sede, com medo, com quase dor de barriga. Pois fui lá, mapinha na mão, as pernas
Motos Vespas em frente à Piazza Dell'Esquilino
bambas e a noite de aventuras apenas começando. Me perdi, rodei uma meia hora até finalmente achar a embaixada russa. Contornei a tal e entrei na rua do Carlitos - tudo escuro, nenhuma placa indicativa, nada de ver o número. O que eu fiz? Caminhei em direção ao militar de uns 3 metros de altura que portava uma metralhadora na mão dizendo em alto e bom italiano: "Senhor, me ajude, eu sou brasileiro, estou perdido, não acho meu hostel. Não atire, por favor, eu tenho mãe!", me borrando de medo do cara pensar que eu era um terrorista e que minha malinha era uma bomba. Ele riu, disse que eu tinha de voltar até o fim, da rua e entrar no último portão à esquerda - ou seja, ele já estava acostumado aos viajantes perdidos desse hostel desgraçado! :).
Basílica de São Pedro - Vaticano
Bom, encontrado o hostel, era só pôr o cartão para abrir a porta. e lá fui eu, uma, duas, três, mil tentativas. NADA! o cartão não abria a porta. Olhei prum lado, um escritório fechado, pra frente, entulho, pra rua, o frio. Liguei pro hotel, o indiano disse que não podia fazer nada por mim porque ele estava sozinho na recepção e não poderia sair pra ir abrir a porta pra mim, que eu ficasse tentando, que ele tinha ouvido um clique! E eu prestes a lhe dizer exatamente que clique foi o que ele tinha ouvido. No final das contas, quando eu já tinha resolvido dormir ali mesmo nos degraus, o cartão funcionou. Eu entrei no apartamento e para acessar o quarto, imaginem, o mesmo cartão que não funcionava. Lá fui eu de novo. Quando enfim consegui, sentei na cama e chorei, chorei como um bebê agarrado às minhas malas, chamando por Deus e todos os santos, o coração ardendo, o rosto ardendo, eu tremendo de frio e fome - tá bom, não chorei nem tremi, só queria fazer um dramazinho -, mas me agarrei às minhas coisas, à minha fè, fechei o olho e rezei pro sol nascer.

Praça de São Pedro - Vaticano
 E quando ele veio foi que eu vi ainda mais claramente onde tinha me metido! Num quarto-chiqueiro com um
casal do leste europeu me olhando como se eu fosse um alien, um chinês tarado que não parava de olhar pros peitos da russa e uma pobre chinezinha que estava na mesma situação que eu, com uma cara mais assustada que a minha. Dei bom-dia a todo mundo, acessei a internet, procurei hostels na vizinhança, peguei minhas malas e me piquei correndo pro Yellow Hostel! Esse sim, isso que é hostel italiano! Lugar bacana, funcionários bacanas, todo mundo feliz, todo mundo jovem, tudo uma festa, quarto limpo, arejado, bem organizado. Meu Deus, obrigado pelo Google!

Eu e os Rodrigos no Vaticano
Deixei minhas coisas no hostel e me mandei a desbravar a cidade sob a luz do sol brilhante e sob o céu azul de Roma. Chequei meu roteiro e fui fazer minhas caminhadas até o Coliseu, Forum Romano (passei o dia todo entre os dois, pois é muita coisa pra ver lá dentro). Ao cair da noite, revigorado pelas descobertas, cheio daquela sensação de "Vine, Vide, Vinci" que tinha me possuído desde que entrei no Yellow, voltei pro hostel para conhecer duas das maiores figuras que encontrei
até agora em minhas viagens: dois chilenos muito engraçados e muito gente boa chamados Rodrigo, sim, os dois são Rodrigo, e de lá partimos juntos para conhecer La Città Eterna de noite. Sempre aproveitem a oportunidade de sair a visitar as cidades e os pontos turísticos à noite, especialmente em épocas de festa, como no Natal, você se surpreenderá com a beleza dos monumentos.

Ficamos pela rua até de madrugada e nesse meio-tempo combinamos a ida ao Vaticano. Um dos Rodrigos
Dentro da Basílica de São Pedro
Membro da Guarda Suíça
tinha sido seminarista e conhece muito da história da igreja e de Roma. Íamos passeando e ele nos contando as histórias e explicando os rituais, os motivos disso e daquilo. Foram horas de grande aprendizagem, de experiências inusitadas como a de passar o Natal num frio lascado, assistindo à Missa do Galo, sentado de frente à Basílica de São Pedro, em pleno Vaticano, celebrada pelo Papa Francisco em pessoa, e nós ali, ao vivo e a cores! Na ocasião também, conhecemos um brasileiro chamado Luiz que está fazendo mestrado em Budapeste e que veio a Roma pro Natal. Ele, assim como eu e os Rodrigos, com um olho na missa e outro ao redor, pensando que de repente (apesar da incrível segurança feita pela polícia e exército) uma bomba pudesse explodir. Mas graças a Deus, como disse Luiz, "eles não seriam tao óbvios".

O Papa disse seu "Ite, Missa Est" e nós fomos pelas ruas da cidade sem achar metrô, nem táxi, nem ônibus - Niente!  nada funcionando. Mas, a noite é uma criança, gelada, mas uma criança. Fomos caminhando, conversando, cantando na chuva gelada que caía até que chegamos num cruzamento e a Luz apareceu. Uma mexicana que tinha ido ver a Missa do Galo e que tinha se perdido sem transporte nenhum pra voltar pro hostel com sua amiga. Como já conhecíamos o trajeto pela cidade, guiamos a Luz pelo caminho iluminado de Roma e a deixamos sã e salva. E tudo, tudo mesmo ficou uma beleza na noite não mais tão gelada da Itália.

Mulher romena jovem fingindo ser
velha para esmolar - Vaticano
Forum Romano
Mais uma vez, as frases do meu tio Jaime vieram fazer eco em minha cabeça: "No final tudo dá certo, se não deu certo, é porque não chegou no final"

Só um alerta: Não se hospedem no hostel Carlitos em Ro
ma, as fotos na internet e no booking.com são um embuste! Depois eu postarei o vídeo que fiz do trajeto até ele.



Gostaram? Então divulguem! Valeu, galera! Feliz Ano Novo na paz e no amor de Deus!


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