segunda-feira, janeiro 16, 2017

Eindhoven - Holanda - um lugar para encontrar amigos


Como disse no post anterior, fui para Eindhoven por causa dos voos baratos da Ryanair, que sempre chegam e partem de lá para vários pontos da Europa. Cheguei de madrugada e a única coisa que vi foi a estação central e a rua do meu hotel.  Na volta, contudo, pude desfrutar da cidade por mais tempo – fiquei por duas noites.
Estádio Phillips e Igreja 
No entanto, se você me perguntar o que há para se fazer em Eindhoven, eu diria que não há muito o que dizer, a não ser se você for fã de futebol. Aí poderá ir ao estádio Phillips e ao museu do PSV Eindhoven e se divertir muito; se não, pode caminhar pelo centro histórico que é pequeníssimo, e comer em algum restaurante bacaninha nos arredores. A cidade, porém, não me pareceu muito atrativa. Em certas épocas do ano, há shows e exposições que são bem concorridos e famosos. Eu não vi nenhum nem outro. Soube depois que a uma hora de Eindhoven há uma cidadezinha universitária e histórica legal chamada Mastriicht, que parece valer a pena visitar. Então, se for estar lá por algum motivo, visite as cidades nos arredores.
Mas você há de me perguntar: “Então, Márcio, se não há muito motivo para visitar Eindhoven, por
Igreja de Santa Catarina
que não deixá-la passar batida?”. Bem, primeiro porque é sempre bom conhecer as coisas, há sempre um algo aqui outro ali que pode ser o Santo Graal para alguém; segundo, porque, como sempre tenho dito, a razão que mais me faz querer viajar por aí não é apenas conhecer lugares, pois no final das contas, por mais lindos que sejam, por mais incríveis que pareçam, por únicos que possam ser no mundo, as cidades e os lugares acabam dando na mesma: monumentos, prédios, natureza, paisagens. O que mais me atrai, porém, é conhecer mundos, e estes são aqueles feitos por pessoas. Para mim a coisa rola mais ou menos como disse Clarice Lispector em carta a suas irmãs certa vez: “eu gosto de gente, não de lugares”.
E lá, nos confins dos Países Baixos, eu encontrei dois motivos para escrever um post, mesmo que rápido, sobre minha experiência em Eindhoven.
Mas antes de falar nisso, vamos contar uma historinha. Pra começar, assim que cheguei, deixei a mala no bagageiro do hostel e fui explorar a cidade. De lá até o centro, andando, são mais ou menos 35 minutos. Escolhi esse lugar a 1 km do centro pelo valor e pelo conceito – era uma fábrica da Phillips que se divide entre hotel e hostel, tem uma boate e um bar bem bacanas, etc. Também a localização me parecia legal, porque, segundo li, na região onde ele está há museus e galerias de arte. Eu sabia que não teria tempo para isso, mas, ficar numa área de museus e galerias sempre faz o ar parecer melhor.
Igreja de Santa Catarina
A verdade é que, andando até o centro, pude ver coisas interessantíssimas como alguns pequenos monumentos no estilo carro de lata numa praça com caixotes que serviam de bancos de madeira; uma chaminé de fábrica que a noite fica iluminada de vermelho com uma projeção de laser no topo como se fosse fogo ardente. Há também, no percurso, o estádio da Philips que se impõe no cenário como um gigante de aço e concreto, e, na lateral dele, o mural com todos os jogadores do PSV – você pode sentar no banquinho em frente aos jogadores e tirar uma foto com todos enquanto as pessoas passam pela rua, te olham e riem, achando engraçado que alguém todo empacotado vá se sentar ali naquele frio pra tirar uma foto com pessoas pintadas na parede. Mas meu lugar favorito desses todos foi com certeza a Igreja de Santa Catarina – construída no século 19, em estilo neogótico, tem vitrais lindíssimos e dois órgãos. Na praça, em frente às portas da igreja há o cemitério encontrado sob sua fundação onde foram descobertos mais de 1000 esqueletos de pessoas enterradas entre 1200 e 1850 e ao qual podemos ver através de um vidro colocado sobre a calçada. Algo meio mórbido, mas maravilhoso de se ver – história diante dos olhos. Como era época de Natal, encontrei também um Christmas Market e todas as suas atrações culinárias e de entretenimento.
Não comi nada dos stands postos lá e a razão é uma só. Descobri um restaurante italiano chamado
Café da manhã no hostel 
Happy Italy, ali mesmo, onde, a exemplo do Il Palio de Amsterdã, serviam comida italiana em proporções gigantescas a apenas 5 euros. Caí matando na pizza que, de tão grande, não consegui nem tomar meu cafezinho quente costumeiro nesses dias frios da Europa.

Porque boas amizades são sempre um plus na vida
O sol se pondo e o frio aumentando me fizeram voltar para o hostel, na verdade, correr praticamente. O frio estava castigando. Aquela entrada superbacana, aquele calorzinho confortável, fizeram logo logo passar o gelo das bochechas e a sensação de mãos quebrando. Embora eu goste muito dessas sensações extremas, é sempre um conforto estar no calorzinho de “casa”.
Pois bem, foi lá no hostel que conheci uma das figuras mais legais de minhas viagens, o David. Um austríaco super boa-praça, que não é nada fã de seu país e queria mesmo era ser latino-americano.  Aliás, ele me disse que a partir de março porá a mochila nas costas e vai percorrer toda a América Latina começando pelo México, e só voltará para casa quando seu passaporte estiver todo carimbado – genial, né?!
O David e eu conversamos muito nesse dia e meio. O engraçado é ver como pessoas abertas ao mundo logo se engajam numa amizade tão bacana que faz com que pareça nos conhecermos há anos. De sorte que falamos sobre tudo: viagens, garotas, sonhos, planos futuros, nossas famílias... e isso em menos de 24 horas! É sempre muito bom encontrar pessoas assim, faz a vida parecer mais leve e interessante. No dia seguinte, fomos andar por Eindhoven, apenas para conversarmos ao ar livre, pois o David estava meio doente e, segundo ele, andar no vento frio desobstruía suas vias respiratórias e fazia seu corpo ficar melhor.

Devo dizer que funcionou mesmo! O cara ficou superbem assim que tomamos a rua e fomos direto para... o restaurante italiano! Dessa vez, uma macorronada com nome italiano que eu não lembro chegou à mesa e eu não consegui comer tudo! A garçonete (os olhos mais bonitos que já vi!) tentava me forçar a comer dizendo que o pessoal iria cobrar taxa de desperdício – aí ela falava alguma coisa como “gotta eat all, dude” e ria. E eu, fui tentando, tentando, duas horas tentando terminar aquela comida deliciosa e farta.
Presépio na igreja de Santa Catarina
O meu amigo voltou para o hostel e eu fiquei no centro perambulando um pouquinho à espera de Kimi, a quem eu não via há mais de 20 anos. Nossas famílias se conhecem há tantos anos quantos eu posso lembrar. Os tios dela e meu irmão formaram uma banda na adolescência e desde então somos os primos de sobrenomes diferentes. Seus pais se mudaram para o Japão há 20 e poucos anos e a última vez que a vi foi quando Soraya, sua mãe, esteve lá em casa para me levar uns livros de japonês – eu tinha acabado de ler Xógum e estava apaixonado pela língua e pela cultura nipônica. Depois de então, houve aquele período de silêncio até o advento do Facebook que reaproximou todas as pessoas na face da terra :D.
Eu tinha visto algumas fotos da Kimi na internet, mas toda a moça de cabelos claros que aparecia na estação (lembrem que eu estava na Holanda, imaginem minha agonia!) me fazia pensar: é ela?! Mas não, tínhamos marcado na porta da Centraal Station e esquecido de dizer qual dessas portas seria.
Depois de alguns minutos de expectativa, vejo uma linda mocinha olhar para mim e dizer: Márcio? Nossa, reconheci na hora: o rosto era a mistura da fisionomia dos pais, o sotaque inconfundível e aquele sorriso que os baianos têm! Foi uma sensação meio curto-circuito. Tipo, você tem na mente uma criança de dois anos e de repente aparece uma moça de 20 e poucos – é pra dar pane no sistema eletro-motor.
A gente falou do ponto de referência e rio muito com o vacilo. Então, como estávamos ambos na
cidade pela primeira vez, voltamos a passear pelo centro. Já havia escurecido e o Christmas Market não estava mais funcionando. Então, resolvemos procurar um restaurante bacana (cujo nome não me lembro agora) para sentarmos e tomarmos um café quente para esquentar a garganta e as mãos. Me surpreendi com a Kimi. Aquela bebezinha de anos atrás havia se tornado uma moça altamente inteligente, com uma conversa fluente e bem articulada e uma alegria de viver maravilhosa – tudo era motivo de boas risadas! Tá bom, conhecendo a família dela, obviamente era de se esperar isso, é uma coisa de genética. Mas, de qualquer forma, sempre são boas surpresas ver os filhos puxando aos seus.

“Um dia, amigo, eu volto a te encontrar”
Levei Kimi até a estação e esperei que ela tomasse o trem de volta para Mastriicht, onde está estudando. Nos demos aquele abraço apertado bem ao estilo Bahia e eu arrisquei puxar da memória meu antigo e enferrujado japonês dizendo “Mata Ashita” (até breve). Ela vibrou, corrigiu minha pronúncia e partiu.
Vi o trem indo embora e me lembrei que bem cedo de manhã – pelas 5 – seria eu a partir. Tomei meu caminho de volta ao hostel, encontrei o David no bar para um café de despedida e muita conversa e dali fomos seguir nossos caminhos: eu para a Polônia, ele para uma rave numa cidade próxima a Eindhoven - e dessas horas, o que fica é  a sensação de que a vida é assim, cheia de surpresas na chegada e corações aquecidos com amizades na partida.




2 comentários:

Unknown disse...

Às vezes vamos a lugares que não apresentam uma natureza ou construções atrativas, mas vamos pelas pessoas, pelas boas risadas que damos. Quando se pode ter tudo junto, é uma maravilha! Aproveite mesmo!

Márcio Walter Machado disse...

Verdade, Ana! Para mim Eindhoven foi bem isso o que você disse - pessoas interessantes e boas risadas!
Abraço!

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